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Filosofia budista pode ser boa ajuda em tempos de vírus, medo e carências



Jubal Dohms, estudioso do budismo e futuro monge budista.


“ É tempo para descobrir que os pensamentos que eu tenho não são meus”

Jubal Dohms, estudioso do budismo e futuro monge budista, vai expor a posição dessa filosofia, no dia 30 deste setembro, dentro do webinário (zoom) “Caminhos do Sagrados”, que o Instituto Ciência e Fé de Curitiba promove. Responderá à pergunta chave do programa: “como as grandes religiões se comportarão diante do pós-pandemia?”. A live começará às 20 horas, e entre os debatedores oficiais do encontro estão Christiano Machado e Raul Anselmi, médicos. Os trabalhos serão presididos pelo médico e professor Cícero de Andrade Urban, vice-presidente do Ciência e Fé. Jubal adiantou a este site parte de sua manifestação. Como segue: “


-Esta pandemia é o novo tempo que chegou para todos. Ninguém aqui está sozinho, estamos todos imersos na mesma realidade. É preciso descobrir, aceitar, acreditar que há procedimentos benéficos possíveis para que as ações destruidoras não nos abalem. O budismo propõe o encontro consigo mesmo como caminho para descobrir que “eu não existo”, que os pensamentos que eu tenho não são meus, que nos acostumamos a viver no piloto automático. Temos sido um amontoado de impressões e imperfeições. Mas que – sim –uma poderosa imagem nos conecta, pelo arquétipo, pela crença, pela fé, pela compaixão, ao numinoso”.


E acrescenta Jubal: “A felicidade só é encontrada quando nos voltamos ao outro. Enquanto permanecemos tentando resolver os nossos problemas, apenas problemas encontramos. No outro (como espelho) podemos descobrir a alegria, a gratidão. “Eu sou você” é uma expressão da beleza da contemplação de nossa comunhão com o sagrado.”


AUXÍLIO NA TRAVESSIA


Prossegue Jubal em sua análise: “A filosofia budista certamente pode nos auxiliar na travessia deste tempo de pandemia e de suas implicações. O budismo nunca falou de outra coisa que não fosse viver melhor – percebendo a realidade e encontrando dentro de si mesmo as sementes, que cada um rega, para fluir nas mudanças do viver. Buda assim sintetizou o budismo: “faça o bem, não faça o mal” – simples assim.


Assumir a responsabilidade de olhar para o todo, perceber que somos todos iguais, que nosso sofrimento é o mesmo e que a energia e a capacidade de atuar de modo mais iluminado já está em nós. É através da meditação, que foi o trabalho de Buda, que podemos entrar em contato com nossa essência e com a do outro. Precisamos nos conhecer para assumir o comando da própria vida. Enquanto apontamos o dedo para os possíveis responsáveis, não percebemos que nada é problema dos outros, mas uma oportunidade nossa. Essa é a prática.


Quando nos voltamos à imagem de buda, não estamos olhando fora, mas indo à imago dei – o sagrado no próprio coração, plena pureza e compaixão. Jung afirma que a imago dei ocidental é Cristo, assim como para os orientais é Buda. Vivenciamos nossa natureza buda ou crística – esse deus que habita em nós.”





Com os monges Oeda e Yamada, no otera de Curitiba


ALÉM DAS DORES


Ainda dá prévia de sua exposição que fará para o programa “Caminhos do Sagrado”, assegura Jubal: – Além de todas as mortes e dores, há vida pulsando em tudo. Uma vida que merece ser aceita e contemplada com gratidão. Nem sempre o que acreditamos pode ser bom para todos. Mas nos permitiremos “remar da melhor forma” na longa travessia da existência de um corpo, de um ego, de todas as ilusões e desejos, do inexorável karma da Roda da Existência.


No budismo, desde o surgimento do Mahayana (o grande caminho), não há a busca pela salvação individual. Estamos todos no caminho e faremos juntos a travessia para a Terra Pura. Os bodhisatvas (equivalente aos santos do cristianismo) nos inspiram a esse esforço para a salvação de todos. Não há um céu que se conquiste individualmente.


No budismo, céu e inferno não existem (são estados de espírito), assim como o pecado (é a nossa ignorância primordial), e não há a crença em uma alma individual, somos todos uma centelha de uma mesma e única alma cósmica. Mas somos também um karma vivo, consequência de todos os nossos pensamentos, palavras e atos.”



Marca do Instituto Ciência e Fé


BUDA HISTÓRICO


Respondendo ainda a indagações sobre o Buda Histórico, Jubal Dohms dirá: – O Buda Histórico Sidarta Gautama, também conhecido por Sakyamuni (o sábio da tribo dos Sakias), viveu na Índia, no século sexto antes de Cristo. Em Lumbini nasceu, perto do Himalaia, onde hoje é o Nepal. Foi um príncipe que abandonou tudo para dedicar-se ao autoconhecimento e para buscar a compreensão de um caminho para cessar o sofrimento de todos os seres. Buda significa “iluminado”.


Trata-se de um homem comum, como todos nós, que pela prática da meditação chegou ao satori (estado de perfeita clareza), no qual enunciou os ensinamentos – o dharma, a lei – que até hoje são seguidos pelos praticantes. As Quatro Nobres Verdades, o Caminho Óctuplo, a Impermanência, o Vazio da Existência e a Interrelação de tudo que existe…


PORQUE SEREI MONGE


Por Jubal Sergio Domhs (*)


Há uma interconexão em minha história. Uma convergência de oportunidades e de tendências. Águas que desaguaram neste caminho do monge, como diz sensei Akyoshi Oeda, meu mestre no Jodoshu Nippakuji de Curitiba – Terra Pura. O primeiro ancestral paterno que chegou ao Brasil, o pastor luterano Hermann Gotlieb Dohms, meu tio bisavô, imigrante alemão, não veio em busca de terras, mas de almas.


Ergueu a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e fundou o Instituto Pré-Teológico e a Faculdade de Teologia, em São Leopoldo – RS.


Minha mãe era católica e para se casarem, naquela época, não podiam ser de religião diferente, meu pai preciso abdicar do luteranismo, para então casarem na catedral de Curitiba. A partir daí e passou a ser um pesquisador da força da religião na alma humana. Aos 13 anos, o contato com o Budismo Muito cedo, em casa mesmo, tive acesso aos livros da biblioteca de meu pai, Jubal Paulo Dohms, que era um estudioso de comportamentos psicológicos e religiosos. No mesmo pacote vieram a yoga, e a sabedoria do Oriente. Foi uma paixão que só cresceu.


Estive sempre muito interessado no zen budismo, que era o que mais chegava aqui, propalado pelos “beats”, pelo professor Suzuki – uma nova postura diante da vida e do desalento do pós-guerra. Conheci o monge Oeda, nos anos 2000, quando estudava nihongo (japonês) e me questionaram porque queria estudar esse idioma, e falei que era pela admiração ao budismo, que – quem sabe – até poderia vir a ser um monge, se a vida permitisse. Um jovem que também estudou ali, que já era discípulo do Oeda, Milton Yamada, hoje é monge residente do templo de São Paulo. Mas, me perguntam “o que é um monge? O monge é um zelador, zela pelo ensinamento, pela comunidade de praticantes, zela pela paz e harmonia. Aí lembro que meu bisavô materno, o francês Leon Nicolas que foi o zelador, por 35 anos, do então Teatro São Theodoro (hoje Guaíra). Parece que já estava no sangue esse cuidado e dedicação.


Hoje, ainda não ordenado, leciono Filosofia Budista e faço atendimento à sanga quando alguém necessita de um diálogo para se fortalecer no enfrentamento das dores e dificuldades/oportunidades que todos enfrentamos. Tenho de assinalar minha certeza de que a arte também leva ao sagrado. Por exemplo: minha mãe, Clemene Nicolas Dohms, era professora de artes e foi observando-a que descobri que queria ser artista. Minha primeira obra foi a trama de uma teia de aranha feita com fios coloridos de lã (dos novelos maternos), executada nos vãos da cerca de madeira que havia no quintal. Acabei por tomar contato com a obra de C. G. Jung e a admirar seu trabalho com a psicologia profunda, que sempre trilhou os caminhos da arte e da espiritualidade.


Foi seguindo neste percurso que conheci, através do professor Aroldo Murá G.Haygert a psicóloga Sonia Lyra. Que resultou na especialização em Psicologia Analítica e Religião Oriental e Ocidental. Hoje meu trabalho de arte, bem como minha poesia, passa por essa temática, o que inclui o I Ching e seus hexagramas, a simbologia budista, os caminhos de dentro.



(*) JUBAL SERGIO DOHMS é publicitário, designer gráfico, artista plástico, poeta, editor de livros e revistas, tradutor e especialista em filosofia Budista.

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